A Garrafa de Fábio Rabin

Isto é uma mistura de poesia com merdosia, de filosofia com nadaprafazia, enfim...sou eu!

quarta-feira, março 12, 2008

Polêmica

Sinceramente tenho andado meio P da vida por alguns comentários que recebo a respeito deste vídeo...nazismo? Ou homenagem a um grande artista? Ou somente uma apresentação tosca?
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domingo, março 02, 2008

Meu avô

Fiquei pensando na diferença entre publicar coisas da minha vida aqui ou apenas comentários profissionais e a conclusão foi: -Dane-se eu sou um comediante stand-up e se não falasse da minha vida provavelmente não teria um emprego.

Meu avô faleceu...faleceu não porque isso é coisa de gente culta ele morreu mesmo porque essa palavra é mais parecida com morte e dá o real tamanho da tragédia que me representa.

Seu nome é Henrique Rabin, nascido em Alagoas, médico, criado no Rio de Janeiro na época de Getúlio Vargas, o primeiro representante médico do Brasil na época da segunda guerra mundial. Seu pai, José Rabin trouxe ao Brasil ninguém menos que Clarice Lispector a nobre escritora que tem no conto "Feliz Aniversário" supostamente o retrato de minha bisavó. Falo isso pra que antes de entrar em asneiras compreendam que este nome deve ser guardado não por estes belos fatos mas por sua marcante personalidade que vou descrever em alguns momentos que tivemos juntos.

Eu me lembro de ser pequeno e ele com seus 1,90 de altura já grisalho, careca porém com a mão mais pesada que já me acariciou. Eu pensava que estava tomando um soco na cabeça, mas era o peso de suas mãos acariciando meus cabelos. Um dia enternecido me disse: -Garoto, você pode ser o que quiser ser na vida! Tenho certeza que irá conseguir se dar bem no que escolher! Eu desejo sinceramente que todo mundo tenha ouvido esta frase um dia. Te dá muita tranquilidade, principalmente quando você vai mal na escola e não vê tantas boas escolhas para o futuro. Eu não queria ser nada, mas tinha certeza que deveria escolher algo especial pois segundo meu avô eu faria bem.

Eu tinha orgulho de ser neto do Doutor Henrique, não apenas porque me paparicava como neto, mas porque era o único, ao lado de sua esposa e amor da sua vida, Beatriz Rabin que conseguia aquietar o ânimo de minha mãe e meus tios. A hierarquia era assim: Minha mãe mandava em mim, meu avô na minha mãe, logo ele era meu ídolo.

Que tipo de doutor era ele? Naquela época tratava-se de tudo. Menos especialização e mais medicina no sentido mais amplo e se é que posso dizer, romântico da profissão. Pra mim, médicos são heróis de branco. E aqui vão 3 histórinhas pra entenderem que tipo de médico era ele.

Uma vez fora chamado para uma aldeia no interior do país. Na expedição tinha a função de levar a cura para regiões mais carentes do país ao lado de outros médicos. Contou que viu uma penumbra de longe de lá se ouviram cantigas tristes...era uma missa, mas não de morto, de moribundo. Ele entrou no que parecia ser uma capela e viu o corpo de um garoto, cercado de velas e pessoas que choramingavam sua perda. Apresentou-se como médico e após alguma conversa tirou de sua mala um líquido, mais conhecido como uma espécie de laxante que fez com que o menino em alguns minutos se levantasse e fosse correndo para o mato. Lá ele defecou não apenas seus vermes como a sua enfermidade.

Outra vez meu avô contou: -Fiz um parto, mas um parto irritante! -Como assim vovô?Indaguei. Ele respondeu: -A mãe gritava tanto que se contraia e sufocava o bebê bem no momento de seu nascimento! E o que fez vovô? Perguntei de novo. Ele respondeu: -Dei um tabefe nela! Quando sentiu a dor do tapa relaxou e a criança pôde nascer! Anos depois ela ainda me agradece! E se ria de prazer com a história.

Com essas e outras eu, como todo garoto influenciado por filmes norte-americanos não podia deixar de desejar ser herói, ou ao menos coadjuvante e sempre desejei estar presente ao lado de meu avô quando alguma garota popular passasse mal para que ele a salvasse. Um belo dia isso aconteceu!

Eu tinha 9 ou 10 anos e estava no meu prédio brincando no parquinho com as outras crianças, quando a garota mais popular do prédio, uma loira alta com seus 15 anos de idade prendeu o pé no centro do gira-gira e continuou a rodar. Todos ouviram o estalo de sua perna e seu grito de dor. Sua perna ficara presa e sua calça tinha o azul coberto por sangue em sua expressão a dor, na expressão das outras crianças o horror e na minha...bem na minha...o doutor!

Meu avô tinha negócios a tratar em São Paulo e vinha para uma rápida visita. Eu fiquei quase alegre com o acidente e disse ansioso: -Acalmem-se todos! Meu avô é o melhor médico que há! Vejam bem...eu com 10 anos estava dizendo a cerca de 20 crianças e adolecentes de até 17 anos que eu possuía a solução do caso. E disse: -Não saiam daqui... meu avô irá salvá-la.

Enquanto a menina ficava embaixo do gira-gira gemendo de dor e todos esperavam pela minha chegada com o super homem eu subia ansioso o elevador e ao abrir a porta quase matei a todos do coração gritando: Vôoooo tem uma menina machucada! O senhor precisa salvá-la! Sem nenhum susto ele se levantou e calmamente segurou sua grande mão na minha e desceu comigo para o socorro.

Eu ainda vejo a cena...todos me olhavam com os olhos brilhando, eu e a figura enorme de meu avô andando de mãos dadas como dois anjos que iam proteger a vida de quem precisasse e eu apenas pegava carona neste sonho. Meu avô parou na frente da menina que gemia de dor, olhou friamente o quadro, sem tocá-la, sem nada e todos aguardavam ansiosamente sua ação. Foi quando ele depois de 5 segundos de análise disse: -É...vai ter que operar! Virou as costas e foi embora! Subiu para casa...sem mais nem menos e eu fiquei com a maior cara de tacho, sendo olhado pelos olhares criminosos de meus amiguinhos. Jamais senti tamanha vergonha!

Após a chegada dos bombeiros, médicos e sua ida para o hospital veio à notícia. Ela realmente tinha que operar. Mas para isso rasgaram sua calça e tiraram uma radiografia. Ele apenas a olhou sem tocar e tirou seu raio X de anos de experiência. O fato é que ele realmente não poderia tocá-la. Logo voltei a sentir um orgulho maior ainda dele.

Este era meu avô, meu querido avô, que aos 80 anos caiu de um ônibus em movimento, levantou e continuou caminhando, que aos 90 descobriu um câncer na língua e foi privado do maior prazer de um idoso...comer...mas ele ainda ficava feliz escutando música clássica e sobreviveu a duras sessões de radioterapia, jamais chorou, jamais pediu morfina, mas deram a ele porque senão ele morreria sufocado numa cama de hospital.

Vovô, eu queria ser mais homem e estudar a cura desta doença horrível que te levou, eu queria ter passado mais tempo com você, hoje minha profissão é fazer rir, e eu só consigo porque um dia você me disse que eu podia ser o que quisesse. Sabe do que mais...eu quero ser seu neto pra sempre e não importa o que eu fizer daqui pra frente, dedico todas as coisas boas ao senhor, pelo homem que você era. Te amo. Abrace minha vó e diga a ela que também a amo tanto quanto o senhor. Não sei se tem internet no céu...só se eu assinar SKY!

Dói tanto não ter você aqui! Que teu nome seja lembrado por tudo o que o senhor fez. Eu tenho orgulho de ser um Rabin.